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Vergonha, eu?


Mais ou menos há 3 décadas, um dos fundadores da DorseyRocha, Rodolpho Rocha, costumava fazer uma brincadeira com seus ouvintes e treinandos, líderes de grandes e renomadas empresas. Na verdade, não era exatamente uma brincadeira…dizia ele: “todos vocês já fizeram grandes realizações e alcançaram grandes objetivos e sonhos em suas carreiras, que em sua maioria estão descritas em seus respectivos currículos, mas vocês seriam capazes de escrever um Ridiculum Vitae, com os erros e as bobagens que já fizeram também?”


Na época a reação da audiência era de risos, até porque eu também acho o Rodolpho engraçado, ou melhor, muito espirituoso em suas colocações, que aparentemente divertidas, embutem reflexões muito profundas. Nessa fala, em especial, ele já anteciparia discussões bem contemporâneas sobre erros, aprendizados e inovação. E indo mais além, Rodolpho, como o personagem Chaves, “sem querer querendo” já denunciava um tema que não tem graça nenhuma: a VERGONHA.


Todos nós, seres humanos normais, sentimos vergonha em muitos momentos da vida, mas a forma como lidamos com ela e os efeitos que ela causa para nós e nosso entorno, estão ainda sendo estudados. Além disso, há evidências que ela provoca dores emocionais equivalentes às dores físicas. A escritora e pesquisadora Brené Brown define em seu livro a vergonha como o medo da desconexão, ou seja, “de ter feito ou deixado de fazer algo que torne a pessoa indigna de vínculo, pertencimento ou amor”.


Por isso, muitas pessoas sentem-se desconfortáveis em falar sobre suas experiências vergonhosas, o que é relativamente normal, e muitas podem negar e ter dificuldades em responder à pergunta do Rodolpho. Como esse é um sentimento muito primitivo como o medo, a coragem e outros, Brené afirma que “as pessoas que não experimentam a vergonha são aquelas que não têm a capacidade de sentir empatia ou conexão humana.” Pode escolher: ou você confessa que tem vergonha ou admite que é um sociopata… E aí, vai encarar?


Estamos no meio de uma pandemia, com isolamento social, sobrecarregados e com um futuro incerto e vamos pensar em vergonha agora? Pois é, independentemente do tema ser agradável ou não, ele está sim bem relevante para o momento. Quando estávamos nos escritórios trabalhando e liderando nossos times normalmente, algumas evidências sutis da vergonha já nos rondavam, como: perfeccionismo, favoritismo, fofocas, julgamentos superficiais, provocações veladas e outros, que já corroíam o espírito de time e a cultura da organização. Agora, mais do que nunca, precisamos ganhar a confiança, fazer a comunicação aberta e empática, fortalecer vínculos e parcerias para sermos líderes dessa situação inusitada, e estarmos aptos a construir um futuro em conjunto.


Qual líder, ou quem de nós, nunca pensou: Será que sou bom o bastante? Será que vou conseguir? Será que sou uma fraude?


Num movimento pendular entre os sentimentos de insignificância e arrogância, sempre tem bastante de vergonha. Sem problemas! Se você quiser de verdade ser um líder de sucesso para seu time e nos relacionamentos da vida, comece praticando a vulnerabilidade: reconhecendo, analisando e, por que não, quando apropriado, compartilhando o ser humano não tão perfeito que você é!


Dica para aquecimento: comece fazendo seu “Ridiculum Vitae”!


Escrito por Aliete Travitzki – Consultora da DorseyRocha Consultoria.  Formada em Serviço Social e Mestrado em Filosofia Social  além de Especialização em Recursos Humanos e MBA em Gestão Estratégica.

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