O termo capitalismo consciente foi cunhado pelo indiano Raj Sisodia, que é cidadão norte-americano, professor da Babson College em Massachusetts e autor de vários livros. Tornou-se celebridade e guru empresarial. Em novembro deste ano, seu livro “Empresas que curam”, escrito em conjunto com Michael Gelb, será lançado no Brasil.
O conceito e o livro tratam de temas que ganharam relevância maior nos tempos de pandemia e de episódios racistas mundo afora. Os autores afirmam que o século 21 será de ascensão e libertação para as mulheres.
Defendem a ideia que as empresas que contribuem para o sucesso do novo capitalismo do qual precisamos, são aquelas que não se preocupam apenas com o lucro ou o resultado financeiro, mas também se interessam pela contribuição que fazem para a qualidade de vida dos seus clientes e pelos impactos que causam nas comunidades, considerando o seu desenvolvimento e a preservação do meio ambiente. Uma contribuição positiva pode aumentar a fidelidade dos clientes e aumentar o lucro. Aliás, numa abordagem mais ampla, Raj trata a questão da nossa reconciliação com o passado, admitindo e reconhecendo as dívidas causadas pela escravatura dos negros, dos indígenas e mesmo de outros povos como os indianos. Afirma que a culpa será extinta se admitirmos os traumas causados por esse passado.
As empresas conscientes, para alcançar esse estágio precisam vencer alguns desafios ou, como ele afirmou em entrevista recente à Revista Exame, “tirar alguns cadáveres do armário”. O primeiro desafio é amenizar a cultura hiper masculina caracterizada pelo excesso de agressividade, competição e dominação. Raj propõe que é preciso resgatar o lado feminino e a masculinidade madura que oferece foco, força, coragem, estrutura. O segundo desafio, talvez maior, é aumentar o equilíbrio de gênero, de raças, de reconhecimento e retribuição pelo trabalho realizado.
A realidade de desequilíbrio provoca a repressão das emoções nas organizações e fomenta um sofrimento silencioso; de certo modo os mitos do super-homem e da mulher-maravilha que são absolutamente resilientes e acabam no burnout para os mortais. Então evidencia a necessidade dos líderes se mostrarem vulneráveis e expressarem suas emoções para possibilitar que todos na organização possam fazer o mesmo.
Os autores falam que a felicidade na organização pode beneficiar as pessoas e os resultados. O primeiro autor que vi falar de felicidade no mundo do trabalho foi Peter Block, no seu livro sobre empowerment de 1988 - Gerentes Poderosos. Raj Sisodia afirma que a empresa consciente provavelmente terá mais lucro, mas alerta: “se a única motivação dos executivos ou líderes para fazer a transformação for a busca do lucro, possivelmente as pessoas irão desconfiar e se tornarão céticas e cínicas. Assim acabarão não embarcando no processo de mudança”. Interessante, pois Peter Block fazia o mesmo alerta em relação à cultura de empowerment, que propunha um equilíbrio maior no uso do poder nas organizações.
Raj denuncia uma realidade: em muitas organizações as pessoas vivem em modo de sobrevivência e, pessoas que vivem assim, perdem a sua humanidade. Precisamos de recursos, tempo e educação para liberarmos nossa divindade.
Qual o grau de consciência do capitalismo da sua organização?
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Ely Bisso - Sócio diretor da DorseyRocha
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