Já faz muito tempo que nos acostumamos ao uso de acrônimos – essas sopas de letrinhas – dos quais em especial os norte-americanos tanto gostam. Em princípio devo confessar que gosto também, mas muitas vezes tenho a sensação de estar vendo um “Déjà vu” na nova moda que se me apresenta.
Vamos brincar, por exemplo, com a frase: “Nos próximos tempos a única constante serão as mudanças”, atribuída a ninguém menos que Heráclito que a teria dito em 500AC. Então, será que se perguntássemos a Heráclito se aquele mundo não estava lhe parecendo meio que volátil, incerto, complexo e ambíguo - VUCA, ele responderia sim ou não? Ou talvez se lhe perguntássemos: você acha que nosso mundo está frágil, que a incerteza nos provoca ansiedade, que as mudanças são não lineares e que muitas vezes é incompreensível - BANI? Ele responderia sim ou não?
A reflexão que gostaria de provocar é que a sigla pode até nos ajudar a reconhecer, compreender e mesmo lidar com as mudanças e a realidade, mas em cada época isso já existia e cada um com os seus recursos tinha que enfrentar os seus desafios.
Para isso precisamos de hard skills, soft skills, human skills, STEM skills – O QUÊ?
Esse é mais um acrônimo. STEM é a sigla para indicar Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Mas qual o significado de falarmos em competências ou habilidades vinculadas a essas quatro áreas no mundo BANI?
Quero lembrar aqui, por oportuno, que na primeira década deste século Patrick Lencioni no seu livro A grande Vantagem postulou que para ter sucesso a empresa precisa ter competência técnica, isto é, domínio das ciências necessárias às decisões de negócio. Mas falou também da necessidade de um ambiente saudável onde as pessoas pudessem ter coragem de expor sua vulnerabilidade.
Evidentemente dominar o uso e especialmente a aplicação de tecnologia, hoje muito mais disponível e acessível, às diferentes áreas de decisão em ciências, matemática e engenharia é um requisito muito necessário. Nos deparamos com publicações que apresentam a aplicação dessas habilidades, STEM, associadas a solução de problemas, a criatividade, a capacidade de investigação e pesquisa, ao pensamento crítico, ao design thinking, ao trabalho colaborativo.
Cabe aqui a análise crítica: estamos falando de novas competências, das quais nunca falamos antes, ou estamos apresentando uma nova formulação para competências sobre as quais estamos tratando de modo evolutivo desde o início dos anos 2000 ao tratarmos especialmente de hard skills?
Evidentemente os métodos ágeis e a inteligência emocional tornam mais desafiador usar a tecnologia e as ciências das decisões em processos que são trabalhados em equipes e precisam ser ágeis para construir soluções antes que os problemas mudem.
Mas isso Heráclito já nos alertava.
Por tudo isso a sugestão é: aproveite os novos termos e siglas para facilitar sua compreensão, comunicação, e mesmo direcionar sua ação, mas não considere que tudo agora é novo e totalmente diferente. Ou seja, não descarte o que você já sabe, adicione e adapte-se!
Escrito por Ely Bisso – Sócio e Diretor da DorseyRocha Consultoria. Engenheiro eletricista pela Faculdade de Engenharia Elétrica da UNICAMP, bacharel em Ciências Administrativas pela PUC-Campinas, com pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho pela UNICAMP e MBA em RH pela FGV.
Comentários