No livro A Grande Vantagem, Patrick Lencioni afirma que para serem bem-sucedidas as organizações precisam preencher dois requisitos: competência técnica - domínio das ciências importantes para as decisões nos negócios; e ambiente organizacional saudável.
Quero tratar do segundo aspecto, o ambiente saudável. Muitos autores abordam essa questão por diferentes ângulos, em geral, complementares. Lencioni afirma que o ambiente saudável inclui alta confiança entre as pessoas, pouca política e baixa rotatividade. Explica que a alta confiança é a característica que permite que as pessoas evidenciem suas fragilidades, por exemplo, alguém falar: “desculpe eu deveria saber disso, mas não sei e terei que me informar”.
Outra abordagem da questão é a chamada “segurança psicológica”. A doutora Amy Edmondson, professora de Harvard, cunhou a expressão para indicar a situação em que a equipe não irá envergonhar, rejeitar ou punir alguém por manifestar desconhecimento ou cometer um erro. É a crença compartilhada pela equipe de que o ambiente é seguro para a tomada de riscos interpessoais.
Os membros da equipe sabem que podem expressar suas opiniões, darem ideias, fazerem perguntas, e principalmente, caso alguém cometa um erro, que a equipe estará lá para ajudá-lo, e não para culpá-lo, tornando o erro uma experiência de aprendizado.
No livro “A regra é não ter regras”, Reed Hastings expõe que na Netflix as pessoas são incentivadas a tomarem as decisões em seus projetos e se responsabilizarem por isso. Antes de decidir são instigadas a compartilhar suas ideias e a ouvir outras pessoas. Depois de decidir, se tiverem sucesso comemorar, se não, analisar o que aprenderam e expor o que aconteceu ao maior número de colegas para que todos possam aprender com o erro. Um ambiente de aprendizado, seguro.
Ainda podemos tratar do termo “expor sua vulnerabilidade”. Quando eu me mostro vulnerável parece que sou uma pessoa frágil ou fraca. Na realidade, ao me expor eu me fortaleço, mas é muito difícil fazer isso se o ambiente não me oferece segurança.
A professora Brené Brown correlaciona a vulnerabilidade às emoções que desejamos evitar como o medo, a vergonha e a incerteza. Afirma que ao expor sua vulnerabilidade as pessoas podem se tornar mais plenas e felizes, mas que isso exige relações interpessoais de alta confiança, o que nem sempre conseguimos construir no ambiente organizacional.
Em pesquisa que realizou, Brené Brown constatou que no grupo de pessoas capazes de estabelecer conexões fortes e verdadeiras, duas características estavam sempre presentes: a vulnerabilidade e a coragem, intimamente correlacionadas. As pesquisas evidenciaram que quando as pessoas se desarmam e se arriscam, abrem-se às experiências que trazem propósito e significado às suas vidas.
O outro requisito para possibilitar essa abertura à vulnerabilidade é a compaixão consigo mesmo, isto é, a pessoa assumir que não é perfeita, o que exige coragem. Um líder pode desejar criar um ambiente saudável, mas pode não ter a coragem de assumir suas imperfeições. Mostrar-se vulnerável vai contribuir decisivamente para criar o ambiente de alta confiança e indicar para a equipe que todos podem fazer o mesmo, pois esse é um ambiente seguro para que possam se expor e ser autênticos.
Percebemos, portanto, que num ambiente organizacional saudável as pessoas não se manifestam por meio de críticas, exigências e julgamentos, mas por empatia e compaixão. Todos sabem que já enfrentaram e viveram situações semelhantes.
O ambiente saudável, em consequência, vai liberar as pessoas para usarem toda a sua competência e criatividade a favor da realização dos objetivos. Todos nós temos necessidade de pertencer, sermos reconhecidos, respeitados, apoiados, autênticos e de buscar propósito e significado. Como consequência dessa disponibilidade pessoal as equipes vão se fortalecer, o desempenho vai aumentar e os resultados organizacionais serão melhores.
Como você percebe o ambiente organizacional no qual atua? Acredita que pode influenciar para que se torne um ambiente mais saudável? Se quiser comentar ou trocar ideias me chame no WhatsApp 19 98882-7292.
Escrito por Ely Bisso – Sócio e Diretor da DorseyRocha Consultoria. Engenheiro eletricista pela Faculdade de Engenharia Elétrica da UNICAMP, bacharel em Ciências Administrativas pela PUC-Campinas, com pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho pela UNICAMP e MBA em RH pela FGV.
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