A pandemia Covid-19 mudou nossa realidade organizacional de uma maneira súbita e absurdamente disruptiva. Raciocinando sobre a realidade do mundo dos negócios e do trabalho no Brasil, as mudanças já realizadas seriam impensáveis num horizonte de cinco a dez anos, não fosse o advento da epidemia.
Exemplos não faltam para ilustrar a afirmação: o executivo André Esteves – CEO do Banco BTG afirmou em entrevista ao Felipe Miranda – CEO da Empiricus, “estamos com 90% das pessoas do Banco trabalhando em home office, isso seria impensável em condições normais”; o STF – Supremo Tribunal Federal realizou em 15/abr sua primeira sessão on line; o Congresso Nacional fez o mesmo na semana passada; empresas que nunca tinham pensado em estratégia de e-commerce estão atendendo assim aos seus clientes e por aí vai. Isso tudo sem falarmos nas mudanças em nossas vidas em confinamento, que é uma outra estória.
Trabalho remoto como condição e não opção
Queremos focalizar particularmente a necessidade e a realidade de adotarmos o trabalho em casa como solução única para viabilizar a continuidade do funcionamento das empresas ante à premência do afastamento social.
Todas as nossas anteriores desculpas verdadeiras, tais como a falta de controle sobre processos e resultados e a geração de passivo trabalhista entre outras, de repente caíram por terra, pois se tratava de assumir riscos e trabalhar de alguma forma para buscar a sobrevivência do negócio ou paralisar tudo e morrer de imediato. Então, as pessoas foram solicitadas a ficar em suas casas e a trabalharem lá, como pudessem. Ao mesmo tempo, as crianças foram dispensadas das aulas e passaram a ficar em casa para evitar os riscos da Covid-19. A família reunida diariamente, tendo que cuidar da casa, da comida e da convivência, além de realizar seus trabalhos à distância.
As necessidades organizacionais crescentes: fornecedores querendo subir seus preços, clientes pedindo descontos e mais prazos para pagamentos, cancelamento de pedidos, falta de insumos, mudanças de objetivos, dificuldades para se comunicar e relacionar, e dificuldades para realizar o trabalho. Diante disso tudo é natural que as pessoas sintam-se ansiosas, pressionadas e com dúvidas acerca de suas capacidades de realizarem seus trabalhos com sucesso.
Nesse contexto, estamos finalmente colocando à prova o nosso pressuposto tão declarado de que “nesta organização trabalhamos com foco nos resultados”, pois até aqui as pessoas eram de fato contratadas para cumprir suas jornadas de 8, 10, 12 horas de trabalho diário. Agora, trabalhando em casa, a pessoa precisa saber qual o resultado que deve entregar e em que prazo. Isso significa que os líderes precisam saber definir, comunicar e negociar as metas de modo a obter comprometimento e engajamento das pessoas da sua equipe.
Esse é apenas o primeiro dos desafios. Existem ao menos outros três desafios:
manter elevado o moral das pessoas da equipe mesmo trabalhando nessas circunstâncias;
manter o espírito de equipe, a integração e a cooperação;
e assegurar os resultados do negócio sem fazer exigências e pressão excessivas.
Trataremos do como fazer isso nos próximos artigos.
Ely Bisso – Consultor e Sócio-Diretor da DorseyRocha
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