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O “Eureca” de Arquimedes é fake news!

Atualizado: 21 de nov. de 2022

Há fatos, contados ao longo dos tempos, que reforçam em todos nós crenças que podem não ser verdadeiras e até prejudiciais. Todos já ouvimos o “Eureca!” de Arquimedes que, aos 22 anos, descobriu que determinada coroa que deveria ser de ouro continha prata também. A suposta epifania se deu enquanto ele tomava um banho de banheira. Ele verificou que o deslocamento de água provocado por uma coroa feita toda de outro seria diferente do de uma feita de outro e prata.


Muitos concordam que ele não poderia ter chegado a essa conclusão, pois, entre outras razões, a diferença de deslocamento de água seria ínfima e de improvável detecção. É como o causo folclórico de Newton que, sentado sob uma macieira, acabou atingido por uma maça e, então, teria descoberto a lei da gravidade.


O “Eureca” ajudou a criar a crença de que a criatividade se dá por um insight, ou seja, de repente e do nada uma grande ideia brota em nossa cabeça. E ainda pior, a crença de que algumas pessoas são criativas e outras, a maioria, não. “Você é criativo” “Ah! Eu não, quem sou eu, mas tenho um colega lá na firma que é demais.”


“Não é bem nessa ordem”, como diria uma colega! Em seu livro “A História Secreta da Criatividade” (tradução criativa – rss – do inglês “How To Fly a Horse”), Kevin Ashton procura demonstrar que a criatividade é uma sequência de passos e esforços. Não tem essa de que a criatividade surge do nada, enquanto se toma um banho, se caminha ou durante um sonho.


Se o Sir Isaac Newton não estivesse estudando o fenômeno de atração dos corpos pela terra por muito tempo, a queda da maçã em sua cabeça, não provocaria nenhum insight, exceto um palavrão talvez.


“Poxa, mas durante uma caminhada eu tive sim uma bela ideia sobre um problema!”. Sim, afirma Ashton, provavelmente você vinha trabalhando nesse problema, elaborando uma solução e, na tal caminhada se cristalizou uma – boa - ideia a ser testada.


A criatividade, e a criação de algo, é fruto de uma sequência de esforços, estudos, testes (com falhas, muitas, na maioria de vezes) até se chegar a algo novo, diferente, criativo, útil e melhor. A inspiração é importante, mas a transpiração é sim o que faz a diferença. Ainda mais, Ashton afirma que as grandes descobertas têm a contribuição de inúmeras pessoas que, muitas vezes, foram aperfeiçoando uma ideia inicial até chegarem a algo atraente, aplicável e viável que faça diferença. “Não existem atalhos para a criação. O caminho é feito de muitos passos – nem retos nem sinuosos, mas como num labirinto.”, afirma Ashton.


Louis Pasteur descobriu os germes, mas antes dele Ignaz Semmelweis havia se debatido com o problema. A diferença é que Pasteur conseguiu apresentar dados que comprovavam sua (mas não totalmente sua) descoberta. Os irmãos Orville e Wilbur Wright criaram o avião depois de anos de tentativas malsucedidas. Estudos intensos os levaram a descobrir que o coeficiente de Smeaton, para determinar o tamanho da asa e o empuxo vertical, não era 0,005 como se supunha, mas sim 0,0033. Para que um aeroplano voasse, as asas precisavam ser muito maiores do que qualquer pessoa havia percebido.


Esforço, tentativa e erro, esforço...


Enfim, é clichê dizer que vivemos, no mundo corporativo, uma era em que a concorrência é acirrada, a melhoria contínua de produtos e serviços é mandatória e a criatividade e a inovação são competências críticas para o sucesso. Nesse ambiente, penso ser crucial a crença de que todos somos criativos, de que é possível e importante cultivar ambientes organizacionais que fomentem a geração de ideias por mais pessoas, se possível todas, e não apenas por alguns “ungidos”.


Não se trata apenas de colocar as “caixinhas de sugestões” ou premiar uma sugestão de redução de despesas, embora tais ações possam fazer surgir boas ideias para a solução de problemas. É preciso garantir um processo de incentivo à criação que considere um conjunto maior de pessoas, que dê voz a elas, que fomente discussões do tipo “e se...” para o aperfeiçoamento das ideias, que proteja as pessoas do medo do fracasso e das punições.


Processo e ambiente que respeitem e acolham o erro, as tentativas frustradas que seguramente acontecerão e os custos decorrentes da experimentação. Processo e ambiente que, sobretudo, não inibam, mas antes acolham e busquem verificar as ideias que confrontem o status quo, as crenças estabelecidas com, no mínimo, um “me mostre”.


Como afirma Kevin Ashton, “torne a certeza uma inimiga e seja amigo da dúvida. Quando você se permite mudar de ideia, pode mudar qualquer coisa.”.


E na sua experiência como isso tudo funciona?



Texto escrito por Iba (Ismael Almeida) e Ely Bisso - DorseyRocha

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