Até a década passada, falar sobre felicidade no ambiente corporativo parecia uma conversa um tanto fora de contexto. Transparecia um diálogo informal, com escopo pessoal, sem ter nada a ver com os áridos temas relacionados ao trabalho e aos negócios. Já nos últimos anos, alguns estudiosos começaram a relacionar esse novo tema como um indicador impactante nos resultados de negócio e no sucesso sustentável das organizações.
Com a pandemia e o isolamento social, a felicidade, ou a ausência dela, passou a ser matéria básica para gestores e líderes que precisam e querem prosperar neste contexto VUCA, ao qual fomos colocados sem convite, preparo ou aviso prévio. Será que essa situação já era previsível? Será que foi premeditado? Ou foi só o acaso? Talvez nunca saberemos a resposta, mas já temos certeza de que nem tudo, ou quase nada, podemos controlar.
O que está em nossas mãos é o poder de decidir o que fazer com isso tudo, de construir ou sucumbir em meio aos escombros dos sonhos, projetos e expectativas que desmoronaram ou foram adiados por motivos alheios à nossa vontade. É isso que a escritora Susan David denomina como “arquitetura da escolha” em seu livro Agilidade Emocional. Além de buscar uma atitude intencional para melhorar constantemente nossas vidas, a arquitetura serve para configurar nossas escolhas para facilitar o melhor aproveitamento daquilo que, como dizemos, ”é o que temos para hoje”.
Felicidade tem origem na palavra “fértil” ou que dá frutos. Seu significado evoluiu para um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, com emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até a alegria intensa. Representa também o bem-estar espiritual ou paz interior. Por isso, tudo indica que se trata de um estado de dentro para fora, que gera, expande e multiplica como a luz.
Segundo Paul Dolan, pesquisador e escritor, “felicidade são experiências de prazer e propósito ao longo do tempo”. Para tanto, é preciso ter a energia atencional, pois podemos ser mais felizes quando alocamos nossa atenção da melhor maneira possível. A maioria daquilo que prestamos atenção e que gera comportamentos é guiada por processos inconscientes e automáticos, e muito do que fazemos apenas acontece, não é fruto de uma ação pensada. Felicidade é causada pelo que damos atenção, por isso pode ser construída. Onde alocamos atenção é fruto de nossas escolhas. O prazer, que traz sentimentos de alegria, satisfação ou calma; como o propósito, que promove sentimentos de realização, significado ou pertencimento são os pilares a serem equilibrados como alicerce na construção da felicidade.
Quando você parar e pensar nas coisas que vêm fazendo e colocando sua atenção, poderá verificar o quanto pode sentir de prazer e propósito, constatará também se está no caminho certo, e se o mundo interior está fortalecido o suficiente para absorver e blindar as ameaças externas à felicidade. Cuidado! Às vezes somos os maiores algozes e sabotadores da nossa própria felicidade, bem como da felicidade das pessoas que amamos.
Ainda mais importante é compreender o quanto esse estado pode fazer o potencial e os talentos de um profissional se transformarem em ideias, projetos, ações e entregas inovadoras e excepcionais.
Então, caro gestor, como você tem atuado? Quando você conversar com seu time, seja pelo Zoom, Teams, GoogleMeetings, Skype, ou mesmo atrás de uma máscara, e alguém responder algo não muito animador para sua pergunta “Oi, tudo bem?”, pare e verifique como ele está se sentindo de fato, porque isso poderá fazer você encontrar o verdadeiro prazer e propósito do seu papel, bem como melhores resultados para você, seu time e sua organização.
Escrito por Aliete Traviztki – Consultora da DorseyRocha Consulting. Formada em Serviço Social e Mestrado em Filosofia Social além de Especialização em Recursos Humanos e MBA em Gestão Estratégica.
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